Simplismo Bucólico
Ao fundo o apito do trem
que o vento trás à procela,
pardais a gorjearem também
em um vai e vem na janela;
bem longe incansável martelo
segue o ritmo do marceneiro,
bem-te-vi salpicando o marmelo
e um sabiá lá no abacateiro.
Tarde quente de ares bucólicos
e um sapo a coaxar melancólico;
no beiral pombos a arrulhar
e um trinca-ferro a chilrear eufórico;
na lagoa um pato a grasnar
e um grilo a cricrilar anafórico,
no jardim tem abelhas zunindo
e o sol no horizonte cai meteórico.
O poeta descerra as cortinas
com letras simplórias de contemplação,
eis então o nascer de uma poesia
sobre mais um dia que vai com a estação.