O PÁTIO DAS COTOVIAS

Havia na minha aldeia

Uma casa ensolarada

Todo o dia sempre cheia

De uma gente atarefada.

Pátio virado a nascente

Onde havia desfolhadas

E alegrando o ambiente

Cantigas e desgarradas.

O sol se abria no campo

Fazendo o patrão esgalgar

Vinham todos de alevanto

Matar bicho pra iniciar.

Puxam os bois o arado

Logo atrás a cotovia

Há que ficar semeado

Até à hora do meio-dia.

Suor escorre p´ lo rosto

Mas a pichorra lá vem

Mata-se a sede com gosto

Não se diz não a ninguém.

Duas, três moças, rodando

Com risos de prazentia

Mãos na enxada e encantando

Fazem boa companhia.

Na terra cai a semente

A seara corta-se à mão

Haja pão pra toda a gente

Sustentando a tradição.

Crescem espigas a fartar

Ao pátio levam-se os sacos

Que é preciso desfolhar

Sobre mantas e casacos.

Passa o lanche e boa ceia,

Obrigadinho, obrigadinho,

Acende-se a luz da candeia

Corre o pão e corre vinho.

Há trabalho noite dentro

Ninguém teme a madrugada

Não se pára um só momento

Pra acabar a desfolhada.

A miúde há pé de dança

Enredada em concertina

Bela vida que não cansa

Até às tantas da matina.

Começa a aurora a raiar

Que a noite foi metediça

Tudo pra cama a deitar

Pra relaxar a preguiça.

Cada moça, cada moço,

Recolhe para seu lado,

Acabou-se o alvoroço

À semelhança do gado.

É o pátio das raparigas

A quem chamam cotovias

Naquela casa de cantigas

Com sonhos e fantasias!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 26/01/2015
Reeditado em 26/01/2015
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