O PÁTIO DAS COTOVIAS
Havia na minha aldeia
Uma casa ensolarada
Todo o dia sempre cheia
De uma gente atarefada.
Pátio virado a nascente
Onde havia desfolhadas
E alegrando o ambiente
Cantigas e desgarradas.
O sol se abria no campo
Fazendo o patrão esgalgar
Vinham todos de alevanto
Matar bicho pra iniciar.
Puxam os bois o arado
Logo atrás a cotovia
Há que ficar semeado
Até à hora do meio-dia.
Suor escorre p´ lo rosto
Mas a pichorra lá vem
Mata-se a sede com gosto
Não se diz não a ninguém.
Duas, três moças, rodando
Com risos de prazentia
Mãos na enxada e encantando
Fazem boa companhia.
Na terra cai a semente
A seara corta-se à mão
Haja pão pra toda a gente
Sustentando a tradição.
Crescem espigas a fartar
Ao pátio levam-se os sacos
Que é preciso desfolhar
Sobre mantas e casacos.
Passa o lanche e boa ceia,
Obrigadinho, obrigadinho,
Acende-se a luz da candeia
Corre o pão e corre vinho.
Há trabalho noite dentro
Ninguém teme a madrugada
Não se pára um só momento
Pra acabar a desfolhada.
A miúde há pé de dança
Enredada em concertina
Bela vida que não cansa
Até às tantas da matina.
Começa a aurora a raiar
Que a noite foi metediça
Tudo pra cama a deitar
Pra relaxar a preguiça.
Cada moça, cada moço,
Recolhe para seu lado,
Acabou-se o alvoroço
À semelhança do gado.
É o pátio das raparigas
A quem chamam cotovias
Naquela casa de cantigas
Com sonhos e fantasias!
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA