Sóbria
Entulhei minha gaveta
Com pedaços de rancores e dores
Foi o que não houve que aconteceu
Tudo que senti dissolveu feito areia ao vento
Quando palavras demoram pra chegar
O melhor remédio é o silêncio
Quando tudo que era limpo
Foi se fazendo sujo
Entulhei meu ego
Com vontade de inchar o seu
Tudo que veio não será como há cinco minutos
Suas flores já estão murchas há dias
A voz é essa
O coração engana a razão
Tanto que quando se vê
O corpo já está tomado
Foi então que eu quis me limpar
Deixar a chuva me lavar
Com o fim de tarde em uma tempestade de verão
Quando quer acalmar o dia quente
Não sei se vou me acostumar com a perda
Já que tudo é mais seguro quando há no que se agarrar
Só que estou tão sóbria agora
Que não quero me viciar
O corpo ainda sente saudades
Os olhos não costumam mentir
Os lábios estão secos
O peito ainda bate fraco
Só que não quero voltar a ser como antes
Dependente de amor pra sobreviver
Com os desejos marejados
Achando que tudo é muito pouco.