Pregão de Ano Novo
Fazendo círculos com o dedo indicador
nas águas claras do lago da praça,
movimento o perfil das imagens dos casarões
fincados na rua de terra batida. Fantasmagórico?
Nada pode ser mais assustador do que memórias.
Nada pode ser mais verdadeiro do que lembranças.
Arrodeada de mimosas as jardineiras das janelas
dos velhos casarões expunham todo o seu viço
a luz do sol para murcharem ao anoitecer.
Vendendo seus doces e salgados, Marciano gritava
num entoar canônico chamando a atenção
das mulheres solteiras. Voz grossa de vendedor
ambulante, que de ambulante não tinha nada,
morava com sua mãe, a Veridiana,
no final da Rua dos Mosaicos!
“Olha o amendoim torrado
a alegria dos namorados!”
Todo “Ano Novo” Marciano manifestava a vontade
de casar - motivo de rebuliço frenético-
entre as jovens solteiras, contudo, os dias corriam
e a escolha do ambulante não acontecia!
As mimosas morriam de velhas nas janelas!
As moças morriam de velhas nos leitos virginais!
Marciano morria solitário, cantando o seu pregão,
no seu velho casarão da Rua do Mosaicos,
agora, Rua Belle-Croix, tempos de modismos
estranhos e estrangeiros entre os brasileiros!
“Olha o amendoim torrado
a alegria dos namorados!”