O TÓ DAS AVENCAS
Um tal fulano magricela
Lá das bandas de Lordelo
Passava por Guardizela
Com boina sobre o cabelo.
Dizia pra toda a gente
Com um vaso em cada mão
Que era muito diligente
E amante da profissão.
- Trago estes vasos jeitosos
Na minha cesta bornal
Têm flores e são cheirosos
E ficam bem no quintal.
- São baratos e sem mossa,
E neles não há encrencas,
Não gosto que façam troça
Por ser o Tó das Avencas.
- Troco os vasos por avencas
Para vender nas vielas
São mais finas que as pencas
E dou minha vida por elas.
- Tenho muitas encomendas,
Nem vejo quem tal consiga,
E até já dão pr´ as merendas
Na taberna do Bexiga.
- Quando atravesso na linha
Gozam comigo a valer
Mas se eu me passo da pinha
Hão-de ficar a gemer.
- Sou Tó mas não sou totó,
Que é uma coisa feia e rara,
Se não param o farrabadó
Parto-lhes a todos a cara.
E era assim o castiço Tó
Que nem nele tinha mão,
Arreliado, metendo dó,
Dava co´ s vasos no chão.
Era magro e muito esguio
Aquele Tó vendedor
Andando num corrupio
Atrás do senhor Prior…
Quando a gente pensa nisto
Dá-nos vontade de rir
Mas, neste mundo de Cristo
Quantos Tós hão-de emergir?
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA