O GATO BARBAÇAS
“Réplica à poetisa
Mª João Sousa”
Aquele meu gato Barbaças
Era um bichano do caraças:
Logo que o solar raiava
Subia para o telhado
E ali sem nenhum enfado
Tudo em redor controlava.
Belo gato que se preze
Agita logo esta tese:
- Não se avista passarada
Pra matar esta larica
Pois o inverno já se ´stica
E é preciso outra caçada.
Do dono não queria saber
Muito menos se aborrecer:
Com um olhar chocarreiro
Achou por bem esperar
Pro repasto angariar
Tinha ali o galinheiro.
Por não ser pilhagalinhas
Ficou-se p´ las entrelinhas:
Durante a hora da sesta
Desceria lá de cima
E, mesmo em contra-clima,
Daria andamento à festa.
- Ó que tenros pintainhos
Tenho ali, e bem tenrinhos:
As velhas estão a dormir
E não há galos por perto
E como sou muito esperto
Vou-me mesmo divertir.
Estava nisto pensando
E as galinhas cacarejando:
- Olha o gato das ameaças
Todo armado em diplomata
Se ele aqui coloca a pata
Adeus, ó gato Barbaças.
Diz Barbaças fanfarrão,
Convencido e garanhão:
- Olha as tonhas carunchosas
Só porque ´stá lá o galano
Julgam qu´ é assim todo o ano
E cacarejam vaidosas.
- Não m´ importa nada delas
Vou-me ali para as janelas:
Sou mesmo bom vigilante
Não há rato que m´ escape
Deste meu escaparate
Hei-de sair fulminante.
- E se eu sorte não tiver
Seja lá o que Deus quiser:
Há por aí comida fixe
Quem o diz é cá o Barbaças
Amanhã serei lambaças
E este evento que se lixe!
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA