RANCHINHO DE ADOBE
Sandra Fayad
 
Cresci em um ranchinho de adobe
Que ajudei ao meu pai enfornar.
No fogão à lenha, minha mãe
Assoprava cinzas pra cozinhar.
Dormi em catres de aroeira,
Colchões fiados, cosidos
E recheados de palha de milho,
Travesseiros com gomos de algodão.
Comi arroz e feijão
peneirados e assoprados,
Pães e biscoitos assados
em forno de barro.
Lá galinha ciscava no quintal,
Porco roncava no chiqueiro,
Vaca mugia no pasto,
Cavalo capinava no terreiro.
Meus heróis eram meus pais.
Tínhamos comida para o gasto,
Liberdade pra dar e vender,
Saúde pra distribuir,
Fé em Deus e no Anjo da guarda.
 
Cresci em um ranchinho de adobe
Na beira do Rio São Marcos,
Rodeada de passarinhos, sapos, grilos,
cobra d'água, cascavel, jararaca,
bois, vacas e bezerrinhos.
Joguei  milho às galinhas,
patos, gansos e pintinhos
No chiqueiro alimentei leitões nos cochos,
Nas matas aprendi a distinguir onça de leão,
Cobra mansa de venenosa.
Conheci carrapatos e borrachudos,
Bicho de pé, piolho e frieira.
Escovei dentes com malva-rosa
Banhei-me em bica,  com bucha de pé,
Sabão de sebo e gosma de babosa.
Curei ferimentos com arnica,
Tomei óleo de rícino e copaíba.
Desci ladeira, trepei em árvores,
Dependurei-me nos galhos mais finos,
E lá de riba, avistei Deus no trono
Rodeado de Anjos tocando sinos.
Bsb, 15-08-2014
Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 17/08/2014
Reeditado em 27/06/2015
Código do texto: T4926145
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