O CANTO DAS ABRÓTEGAS

Saiu um dia para a caça a diva Artémis

Cuja alta beleza Afrodite cobiçava

E já quando o dourado sol se levantava

Seu destino cruzou com o charme de Adónis.

Os apolíneos raios seu corpo enfeitaram

E o belo Adónis logo ali se apaixonou

Por quem desde criança sempre o enamorou

E então os dois um prazer louco iniciaram.

Mas eis que, de repente, surge um bravo cerdo

E, enquanto Artémis o seu arco preparou,

Do esbelto Adónis seu jovem corpo afrontou

Arrancando-lhe a vida em menos de um credo.

A loira Artémis os cabelos arrancando

Intercedeu a Lete que a viesse socorrer

E que fizesse o seu Adónis reviver

Ficando a diva para sempre ali chorando.

As lágrimas do Céu regaram o fresco vale

De tal jeito que o próprio Adónis reviveu

E no alvo corpo daquelas flores renasceu

A abrótega-princesa, em canção de madrigal.

Até que um dia, noite de breu e de luar,

Ali passou a rancorosa Proserpina

Que em dois tempos incendiou toda a colina

Que fez do bosque a formusura terminar.

- Ó insidiosa Proserpina, o que fizeste?

Quem tão grande desgraça a ti te permitiu?

Jurarei a Demeter, que sempre me ouviu,

Que voltes para o Tártaro, donde vieste.

E eu, Artémis, em cada ano tentarei

Que tragam estas flores a vida à Primavera

P´ la memória de Adónis que me retempera

Em poética balada que nunca esquecerei!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 18/07/2014
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