O CANTO DAS ABRÓTEGAS
Saiu um dia para a caça a diva Artémis
Cuja alta beleza Afrodite cobiçava
E já quando o dourado sol se levantava
Seu destino cruzou com o charme de Adónis.
Os apolíneos raios seu corpo enfeitaram
E o belo Adónis logo ali se apaixonou
Por quem desde criança sempre o enamorou
E então os dois um prazer louco iniciaram.
Mas eis que, de repente, surge um bravo cerdo
E, enquanto Artémis o seu arco preparou,
Do esbelto Adónis seu jovem corpo afrontou
Arrancando-lhe a vida em menos de um credo.
A loira Artémis os cabelos arrancando
Intercedeu a Lete que a viesse socorrer
E que fizesse o seu Adónis reviver
Ficando a diva para sempre ali chorando.
As lágrimas do Céu regaram o fresco vale
De tal jeito que o próprio Adónis reviveu
E no alvo corpo daquelas flores renasceu
A abrótega-princesa, em canção de madrigal.
Até que um dia, noite de breu e de luar,
Ali passou a rancorosa Proserpina
Que em dois tempos incendiou toda a colina
Que fez do bosque a formusura terminar.
- Ó insidiosa Proserpina, o que fizeste?
Quem tão grande desgraça a ti te permitiu?
Jurarei a Demeter, que sempre me ouviu,
Que voltes para o Tártaro, donde vieste.
E eu, Artémis, em cada ano tentarei
Que tragam estas flores a vida à Primavera
P´ la memória de Adónis que me retempera
Em poética balada que nunca esquecerei!
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA