A minha aldeia
Memórias pintadas de fresco,
Visões apocalípticas,
Lufadas de ar fresco,
Prisões paleolíticas.
Ventos sopram augurantes,
Sussurram-me aos ouvidos,
Trazem novas extravagantes,
Usurpam-me os sentidos.
Contemplo o horizonte embevecido,
Esquadrinho todos os cantos,
O Mar espraia-se enraivecido,
Pela Lua namorar os campos.
Céu e Terra tocam-se nos cumes,
Névoa gerada ladeia as encostas,
Nas casas ardem os lumes,
E as mesas já estão postas,
O pão abençoado,
Pelo meio mais um trago,
O mal exorcizado,
Ainda longe de estar pago.
O cão ladra para as pedras da calçada,
As ladainhas já fecharam a Igreja,
Guarda-se uma ovelha tresmalhada,
O sino dobra e o mocho pestaneja,
A aldeia dorme sossegada,
Que Deus a proteja.
LX, 13-4-2000