A mágoa
Às vezes fico pensando
Se vale a pena nascer
Uma vida inteira lutando
Apenas para sobreviver.
Esperanças de menino
Se vão com o entardecer
Em seu peito pequenino
Sonha, mas não pode ter.
Ao ver os outros brincar
Vestidos e bem calçados
Com sapatos a brilhar
E calções bem engomados
Enquanto ele coitado
Sempre olhado com desdém
Descalço e esburacado
Maldiz a sorte que tem.
Até o pão que consome
É fruto do seu suor
Se não, morre de fome
E ninguém lhe dá valor
É assim a vida dura
De quem tão pobre nasceu
Fica a mágoa que perdura
Na pobreza que sofreu.