DESATINO
Quando v. excede todas as expectativas...
E o tempo atropela, impiedoso, voraz
Destroçando seus prognósticos traçados
E a cada dia, repetitivo, contumaz,
Vai tomando para si a sua vida, de pronto,
Eu tento retê-lo, mas não consigo
E me desespero, me descabelo, me arranho
Vejo os acontecimentos deslizando, céleres,
Como gotas d’agua entre meus dedos aflitos
O tempo e os fatos seguem, como dois vilões,
A me arrastarem, insólitos, insensíveis,
Para um torvelinho de emoções desencontradas,
Sentimentos de perdas, talvez irreparáveis,
Mesclados num fio de esperança, tênue, leve,
Que insiste em conservar tentando, teimoso,
A teimosia dos que jamais desistem de tentar,
Com uma força que vem sabe-se lá de onde,
Mas que me impulsiona para a árdua luta,
Que me faz persistir em transpor os obstáculos
Que me faz acreditar que eu vou vencer,
Que eu vou conseguir transpor, um a um,
E depois de derrotar o que hoje me assombra,
Virá a sensação de alivio merecida, suada
Própria daqueles que jamais se rendem, não os valentes,
Mas os que acreditam na bonança, na felicidade,
E que exatamente por isso insistem na vida,
Essa dádiva maior que o Universo nos deu,
E que de forma alguma pode ser desperdiçada,
E isso nos dá a força para enfrentar essas perdas,
Trazer de volta com juros e correção monetária,
No grande Banco da Vida, que nos toma, mas,
Nos devolve, se aceitarmos as condições cobradas,
Pois o mar hoje revolto amanhã se acalma,
E acaba trazendo à praia o que ontem levou,
Só preciso acreditar nessa verdade real,
Palpável, de que a vida é maior do que tudo,
E que a vida sempre encontra um caminho,
Eu escolho a estrada sombreada, cercada de flores,
Árvores frondosas, frutos doces, que dão alento,
Onde irei descansar, e o tempo será meu amigo,
Andará junto com os fatos, não mais na frente,
E nós estaremos sempre unidos, sempre juntos,
Unidos pela força invisível, doentia, teimosa,
Que somente os loucos possuem, apenas...