UMA TARDE DE OUTONO
Na fronde de uma mangueira
no gramado cinza do cerrado
coberto de folhas secas,
meus olhos divisam o lago
mal escondido por arbustos
tortuosos e ressecados.
A massa de água plúmbea,
imutável até há pouco,
logo se deixa invadir
por uma esteira de luz,
meio trêmula,
ali deixada pelo sol
no começo da tarde.
De repente um cisne negro,
cisne negro?
sei lá, pergunte ao Popper,
não importa,
só sei que uma ave negra
desliza suave e imponente
cortando a esteira
de águas cálidas.
E a luz etérea da paisagem
registrada em minha retina
sugere que o inimaginável existe,
como o improvável cisne negro
que alheio às minhas conjecturas
singra as águas, sereno,
esbanjando beleza e elegância.
Em 14/08/01