“Quitanda do velho Ary”

“Quitanda do velho Ary”

Hoje, lembrei-me da velha quitanda do seu Ary

Das prateleiras vazias de produtos,

mas abarrotadas de velhas lembranças

O velho Ary e o seu mau humor característico,

era motivo de risos e gracejos das crianças

Ele não precisava sorrir, ele fazia sorrir.

Sempre dizia: muito riso, pouco siso!

Na quitanda do velho Ary

se vendia o que o supermercado

não conseguia suprir, na semana

O pão de cada dia era sagrado; comprado.

Ah, tudo era anotado em uma caderneta.

Engraçado, vivia pregada na parede uma placa:

“Fiado só amanhã”!

Havia uma mesa de sinuca velha e empenada

que alguns arriscavam tacadas e apostas

Homens com as sombras de suas vidas

bebiam sentados, à mesa, na calçada

O jogo de “porrinha” era costumeiro

Valia a gozação e a conta a ser paga

O velho Ary retrucava de hora em hora:

Não quero bagunça por aqui!

Na quitanda, o papo, era sem compromisso

Era o bom dia, vá com Deus e te vejo mais tarde

Traz mais uma que essa é por conta da vida

e a vida sentava para assistir velho Ary retrucar

Dizia ele com a voz firme de comerciante

“O freguês tem sempre razão”!

... e a criançada fazia a festa com os doces

Tudo anotado e conferido no fim do mês

O velho Ary gostava das coisas certinhas

Ele ficava rouco de repetir tal frase

Não havia muita coisa para se comprar,

mas sobrava sempre o necessário.

Não se ouvia a inflação e sua máquina,

tampouco, produtos em promoção

Ah, onde eu me encaixo nessa história?

Estou me vendo menino comprando

O supérfluo que, hoje, se faz necessário

Hoje, fiz uma visita à quitanda do velho Ary

para comprar as lembranças e o seu conselho .

“Cresça, mas não amadureça”!

Mário Paternostro