Liberdade!
" O menino sentado á beira do rio olha pra os pássaros que avoam, soltos, coloridos e livres.
Ele pega o alçapão e consegue pegar um deles.
O pássaro triste entra na gaiola , vítimado pela armadilha do menino de calças curtas e sem camisa que brinca á beira do rio.
A mãe diz:
-Filho, por que voce pegou o passarinho?
_Mãe , eu quero conversar com ele.
A mãe dá as costas e continua esfregando as roupas tambem á beira do rio junto as lavadeiras.
E ela diz a uma outra: -Esse menino, sei não.Vive sonhando!
O menino coloca um galhinho de trigo pra o pássaro que não come e olha pra ele como se pedisse misericórdia.
O menino insiste:
-Come, come passarinho. Isso é bom.Voce vive comendo insetos. Isso aqui é bom!
Mas, o pássaro continua parado e olhando pra o menino.
As lavadeiras terminam seus serviços e se vão. A mãe dele tambem
-Zé Joaquim, vem pra casa que já vai escurecer!
O menino não responde. Esfrega as mãos na calça curta e olha o pássaro.
_Tome! Come o trigo. É pra voce!
E o pássaro continua estático.As penas coloridas retraídas e o olhar de desgosto.
_ Quer água?
Como pode um pássaro querer água frente à um rio.
-Não quer nada. O que voce quer passarinho? Queria cuidar de voce, ficar com voce, te olhar todos os dias.
Mas, o passarinho nada faz. O olhar é o mesmo, trepado no puleiro improvisado na gaiola que ele tinha reservado pra colocá-lo depois do alçapão.
-Passarinho...Eu só quero que voce sorria, que voce me olhe com alegria e voce só fica assim...assim sem querer comer, sem beber água e me olhando triste.
Neste momento aparece uma revoada de outros pássaros , soltos, livres, bebendo água no rio, comendo insetos e folhinhas, beijando as flores e o pássaro fica olhando pra eles.
Neste momento o menino, o Zé Joaquim observa aquele rodopio, aquela alegria dos outros passarinhos.
-Voce não gostou da casa que te arrumei? Prefere ficar assim, pegando chuva, sem saber o que comer e não ter onde dormir?
O passarinho, que não fala, começa a assobiar e os outros se aproximam.
São mais de dez e se amontoam ao lado da gaiola.
O menino, o Zé Joaquim, fica com os olhos marejados.
-Voce quer avoar, passarinho?
E os outros fazem um estardalhaço que é uma resposta.
-Então se vá...Prometo que vou te soltar agora.Vá!
O pássaro sai da gaiola, mas antes olha o menino com olhar de piedade.Como se soubesse que a raça humana, toda prende os passarinhos.
E sai avoando livre, comendo flores e bebendo água dos rios.
O menino chora.
-Passarinho na gaiola não!
E pega a gaiola e parte em pedacinhos.
Logo chega um monte de passarinhos e pega os galhinhos de madeira quebrados.
-O que será que eles querem? Fazer uma gaiola? Mas eu quiz dar.
E ele vê que não era assim. Os pássaros pegavam os galhinhos de madeira e jogavam pelos ares, como se dissessem:-Nós não queremos isso!
A mãe do menino chega e o chama:
-Zé Joaquim, seu pai chegou da lavoura e vamos comer. O pão tá fresquinho.Vem.
-Onde está o passarinho? Fala ao ver a gaiola vazia.
-Sei não, mãe...Sei não!
-Não sabe? Onde voce colocou o passarinho, meu filho? O que fez a ele?
-Mãe, ele tinha um encontro marcado e eu resolví que ele deveria ir.
-Encontro? Cê tá doido, menino? Passarinho lá tem encontro?
-Tem sim, mãe...Com a liberdade! Com a liberdade, mãe!
Que nem eu de calças curtas, correndo pelas cerejeiras, pegando manga no pé e dormindo em paz.
E Zé Joaquim saiu correndo na frente da mãe e gritando:
_vem, mãe...vem que senão o pão vai esfriar.