O POETA, A RUA E OS PASSARINHOS

Ah! Andar pelas ruas a compor poemas!

Gosto de fazê-lo e entre outros temas

escolho o cantar dos passarinhos.

O olhar perdido além do azul do espaço,

o verso vai nascendo a cada passo,

no desejo infantil de encontrar ninhos.

Ouço o palrador e indiscreto bem-te-vi

oculto na folhagem, e por aqui e ali

sempre a contar, de onde está, que ele me viu.

E dou-me conta de que o velho joão-barreiro

gargalha, no seu ócio, galhofeiro,

sem saber, depois, do que ele riu,

Se olho a praia, vejo biguás, aos lotes,

crocitando, como graves sacerdotes

em suas negras vestes clericais.

E do arvoredo ali, perto da farmácia,

vem, como se fosse o som de outra galáxia,

o "rock" sideral dos bandos de pardais.

E faz-se vivo, o poema, em tais instantes,

tão cheio de vívidos cambiantes

que tornam impossível, quase, vê-lo escrito.

Tão logo ele é composto, logo está desfeito,

que não consigo guardá-lo no meu peito

e ele se perde, como as aves, no infinito.

Waldy Würdig
Enviado por Waldy Würdig em 12/12/2013
Reeditado em 12/12/2013
Código do texto: T4609169
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