MOTOQUEIRO ATENÇÃO
MOTOQUEIRO ATENÇÃO
Ao sair da adolescência,
Sonhei com uma moto reluzente.
A mais bela da cidade,
É meu sonho,
Minha realização de vida,
Da minha vida simples de adolescente.
Trabalhei com afinco pôr aí,
Economizei juntando cada tostão.
Guardava o suado dinheiro,
Lá dentro do meu velho colchão.
Quando a grana já estava grande,
Pensei vou entrar na onda.
Comecei a procurar.
Indo pôr onde se ande,
Tenho que encontrar
O meu sonho,
Mesmo usada.
Preta, 125, moto Honda.
Na porta da pecuária,
No meio da marreta,
Eis que me aparece,
Meu sonho, a honda preta.
Fiquei entusiasmado,
Maravilhado,
Era tudo que eu queria,
Pôr mais motos que olhasse,
Só ela que eu via.
Pedi ao vendedor que a funcionasse,
Ele pegou um galão colocando nela gasolina.
Pôr mais que ele a acelerasse,
Mais comigo ela afina.
Vou dar uma volta,
Pode dar mais vou noutra de escolta.
Não me conhecia,
A desconfiança aqui é assim.
Saí e ele foi atrás de mim.
Gostei de vê-la rodando,
Era meu sonho realizado,
Documento em ordem,
Fui logo comprando.
Cheguei em casa entusiasmado,
Mostrei a todos a minha realização.
Vizinhos com inveja ficaram,
Meus pais nada falaram.
Maquina quente assim nunca vi,
Rodava como se tivesse asas.
Pela Marginal corri,
Ou corria pôr mim as casas.
Entregador de sanduíches,
De um pit-dog lá da praça do sol.
De dia alguns trapiches,
Trabalho não me faltava,
Na banda da vida tocava meu tarol.
Meu sucesso era tamanho,
Assustava a todo mundo.
Cada dia aumentava o ganho,
Sempre mais eu acelerava fundo.
Moto Boy namorador,
As minas me paqueravam,
Umas pela carona,
Outras pelo amor.
Gostava-me de todas elas,
Acelerava o motor.
Na corrida insana,
Me via dono absoluto da rua,
Corria na garupa uma menina,
Ou com sol, ou com lua,
Tornei-me íntimo de cada esquina.
Destemido não tinha medo de nada,
Cortava pela direita,
Furava sinaleiro,
Invadia faixa de pedestre,
Motociclista já era mestre...
A 100 pôr hora,
Na curva da Praça do Avião,
Uma grande mancha de óleo no chão,
Me pegou de surpresa.
A roda como se tivesse presa,
Escorregou pelo granito,
A máquina na frente e seus ferros
Soltando faíscas no atrito,
Via-me atrás deles,
Como se fosse uma estrada para o infinito.
Parece que não íamos parar mais,
A moto na frente,
E eu escorregando atrás.
O meio fio arrebentou-me o capacete,
De repente uma pancada seca na cabeça,
Partindo-a bem no meio.
Inerte ali fiquei,
Formando em minha volta de sangue um veio.
Queda fatal,
Pátria espiritual.
Goiânia 15/11/13.