DA JANELA VEJO O VERÃO
Quando a ultima hora soou pra mim eu nem soube!
Tanto para ver de minha de janela oh menina
As arvores dançando com o vento bailados que não se pode compreender
Tantos pássaros fazendo coro
Tantos coros pra tantos pássaros!
E os cães vadios das ruas de Imbé!
De onde eles vêm?
São suas as ruas mal cuidadas e escuras nas madrugadas do litoral
Procissões desfiles e farras caninas eu quase posso ver
E vejo tudo garota, vejo tudo de minha janela.
A areia fina e pesada vagando no vento nordeste
Maresia no ar
No éter de cada microcosmos de quintal
E por que ainda existem aqui tantos cavalos?
Faroeste litorâneo no sul do pais?
João do santo cristo estaria em casa?
Não, em verdade não creio.
Neste lugar aonde tração animal e trabalho braçal simples ainda ganha o pão
A face da miséria tem maquiagem bonita nas casas de veraneio
Você vê comigo os gaviões não vê?
As elegantes aves de rapina agora fazem suas vitimas em charcos imundos e esgoto a céu aberto
Não vejo caravelas, você vê?
Nem antigas e lúdicas jangadas pra pescadores
Nas águas cinza chumbo do mar só petroleiros
Nos dias carentes de cores da rotina sempre as mesmas coisas
Pelo que chorei e o que lamentei nesta janela só o vento sabe
Entreguei as estrelas certa noite um poema de dor
Fiz intrigas com a lua cheia à beira do mar que rugia
Ciumento o oceano não queria dividir sua musa
Voltei pra casa ainda mais só
Voltei vazio
Mas não triste
Aqui onde avenidas que não são avenidas se estendem a perder de vista
Aqui onde bairros parecem à própria cidade
Aqui onde todos querem saber de tudo
E de todos
As ultimas folhas falecidas do frio partem aos poucos
Formigas carregadeiras já trabalham
As casas ganham pinturas
Nos quintais gramados são aparados
Da minha janela sinto fácil no ar
Tem mudança chegando
Tem cheiro de verão.