Paisagem Ortografada
Toda a graça efêmera de um dia, aflora no peito feraz
O desejo complacente de ver a beleza passar,
Quando os dedos rosados da aurora crepitam nas águas,
A luz chora nos poros da Terra, ferve e bombeia o coração
Espalhando artérias tropicais que jorram cascatas de prata,
Tapetes marítimos desenrolam nas orlas douradas,
Horizontes são bordados em relevos verdes,
Perfumes são criados com o amplexo dos ventos,
Desenhos alvos e volúveis são pintados no teto azul,
Árvores pulverizam o ar com o canto dos pássaros
Embalando as copas com melodias e harmonias
Na cadência branda que nascem as flores;
Nessa beleza está enclausurada uma tristeza;
A condição única da natureza traz o martírio
Do fim e a graça da fugacidade entrelaçadas,
Tornando cada dia uma pintura única
Exposta na galeria do coração dos contemplativos mortais,
Coração que bombeia o carma e dádiva da mesma condição.