... E NADA SOBRE AMANHÃ

Não me agarro ao esse hoje

È o passado que me mata.

Pelo nada que me resta

Pelo tudo que maltrata.

Já dormi com uma miss

E sequer pedi seu nome.

Entrei em grandes palacetes

E jantei sem ter fome.

Beijei algumas meretrizes

Dei abraços em deputados.

Sem imaginar que ambos eram

Produtos do mesmo mercado.

Pisei na terra prometida

Com sapatos de verniz.

Sentindo-me um grande santo

Nu, sonhando com Paris.

O ‘Amado’ no meu sobrenome

Transformava-me num gigante.

Da adoção soube recentemente

Não passei de um falso brilhante.

Minha amante mais amada

Morreu longe do meu olhar.

E por ser ela comprometida

Não pude meu adeus lhe dar.

E vieram outras Marias

Que me deixaram mais ateu

E todas acabaram levando

Um pouquinho do meu eu.

Meu passado abre as portas

De uma casa conhecida.

Mas as janelas estão fechadas

Proibindo-me de folhar a vida

Morrerei em poucos dias

Ou talvez em uma hora.

Sem saber – felicidade

Onde é que estás agora.

Não me agarro ao esse hoje

Esqueci a meretriz

As Marias que chegaram

Vivem hoje em Paris...