Preguiçosa na sombra da sucupira

Num pedaço de chão guardei algo

Da menina com rosto grudado no quadro

Pregado na parede de adobe daquela casinha do pé da serra.

Disse preu guardar e fazer barro depois...

Tudo criei naquele chão...

Sonhei, brinquei, tive filhos, amei,

Chorei, feliz, fugi, voltei, gozei, me alegrei...

Embora, pois, fui...

Ainda guardo seu agrado,

Alegremente tristonha como

Qualquer pedaço de chão abençoado por água.

Nada que me parca nunca me teve a não ser a terra que me pariu.

Com água misturei e me batizei

Mais tarde poeira, depois barro, tabatinga...

Na terra rasgada me perdi: Voçoroca, ai de mim...

Hoje sou amor, vestígios de sonhos envelhecidos e acriançados.

Careço da terra, às vezes empoeirada, seca, outras, cheirosa de chuva.

Cultivo folhas caídas de manacás que se contorcem e seguem luz.

Agora encostada no chão,

Na sombra preguiçosa da Sucupira, em cada gesto sinto vida.

poema do livro "Estórias da Minina di Butina"

Danielle Terra
Enviado por Danielle Terra em 27/06/2013
Código do texto: T4361269
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