Preguiçosa na sombra da sucupira
Num pedaço de chão guardei algo
Da menina com rosto grudado no quadro
Pregado na parede de adobe daquela casinha do pé da serra.
Disse preu guardar e fazer barro depois...
Tudo criei naquele chão...
Sonhei, brinquei, tive filhos, amei,
Chorei, feliz, fugi, voltei, gozei, me alegrei...
Embora, pois, fui...
Ainda guardo seu agrado,
Alegremente tristonha como
Qualquer pedaço de chão abençoado por água.
Nada que me parca nunca me teve a não ser a terra que me pariu.
Com água misturei e me batizei
Mais tarde poeira, depois barro, tabatinga...
Na terra rasgada me perdi: Voçoroca, ai de mim...
Hoje sou amor, vestígios de sonhos envelhecidos e acriançados.
Careço da terra, às vezes empoeirada, seca, outras, cheirosa de chuva.
Cultivo folhas caídas de manacás que se contorcem e seguem luz.
Agora encostada no chão,
Na sombra preguiçosa da Sucupira, em cada gesto sinto vida.
poema do livro "Estórias da Minina di Butina"