Quando fui embora morar
No lago
Na pequena choupana
De sapé
Com a romântica fumaçinha
Saindo pela chaminé
Levei apenas minha cuia
De chá
Minha cumbuca de chibé
Os lápis de cores
E meu camaleão
A doce solidão
O pilão machucando o grão
O tubérculo pouco cozido
O bambu virou caniço
Flauta talher poemas haicus
Meu relógio eram as estrelas
O canto do nambu
Meu jirau minha cama oriental
Viraram aquelas tabocas
Aldravas para minha oca
As raízes das árvores
Os cipós entrelaçados
Foram entrando nas minhas artérias
Minha alma transcendente foi conhecendo
O Deus imanente
Mas um dia a autoconsciência emergiu
Do lago transparente
Fiz um dicionário da linguagem
Das borboletas
Meu escopo ocidental
Meu ser filantropo
Aos poucos foi transmigrando
Para um lobo misantropo
Muitos anos naquela cabana
As vacinas venceram
Alguns ferimentos no corpo
Nos sentimentos
E que nunca estive sozinho
Naquela floresta
Bebendo luar na beira
Do lago
Ela sempre esteve comigo
Nos meus pensamentos
E uma madrugada o cipó caapi perguntou
Quem é ela
Que tem os cabelos e o nome
Da princesa de aiocá
Luiz Alfredo - poeta