CIDADE LUZ
Pessoas caminham pelo passeio de mosaico.
Os corpos não me interessam só os pés leves
Pisando orgulhosos como se dançassem
Centenária polonaise
De um Chopin nascido em terra santista.
A fileira de árvores contorna a calçada,
Os pássaros, em grupos, parecem sopranos
Cantando ária que só minh’alma entende.
Viajo. A alma, turista do corpo, se solta,
Porque não carece de físico transporte.
Os galhos das árvores, tal como dançarinas
Descompassadas, agitam-se com a melodia
Do vento que vem dos pulmões do mar,
E, eroticamente desnudos e eretos,
Forram o chão com suas vestimentas.
Nos jardins, as folhagens e flores recebem
Do sol um longo e ardente beijo
Enquanto borboletas, em idílio amoroso,
Embriagam-se, como as antigas bacantes,
Com o néctar sorvido do cálice de pétalas.
O estio fecha o postigo da muralha do outono,
Aprisiona o frio em dias de luz e calor
E os pés, leves e orgulhosos, correm,
Como amantes desesperados e saudosos,
Para os braços do mar azul e calmo.
Cidade dourada, de pardieiros a mansões,
De poetas a contrabandistas sorrateiros,
Eu te amo! E sob o teu céu sempre azul
Vivo, sonho de olhos fechados ou abertos,
Porque tens uma magia entranhada
Em cada pedra que reveste as ruas e o casario,
Herdada dos conquistadores e dos piratas.
Protegida pela Senhora do Monte Serrat
Cumpres a missão grafada em tua bandeira:
De “A pátria ensinar a caridade e a liberdade”.
31/03/07.