ANDANTE
E sigo andando entre vales, no céu e na terra,
e sigo compondo mais flores, versando sementes.
Encontro urgências tamanhas, tanta intensidade...
que o eco por entre as montanhas, me soam indolentes,
canções que o vento propaga, voo, liberdade.
E sigo andante insistente, num barco, num rio,
não há, uma volta iminente, retorno não há,
as margens convidam ao descanso, sono ou desvario,
mas louco é mesmo o destino do barco a vagar.
Andante vou pelas estradas, catando um caminho,
que surge assim de repente, na curva adiante,
e o sonho que habitava a curva, livrou-se do ninho...
voou, perdeu-se no mundo, vadio errante.
Andante, errante prossigo, fazendo meu rumo,
bebendo da fonte na estrada, que flui livremente,
Andante procuro inconstante, um porto, um prumo,
que poupe a asa cansada, o barco a deriva,
que acolha a sanha, a gana, a fome insistente.
Andante é meu nome antigo, mas sou mesmo amante
que vara a noite a procura, do verso encantado...
amante do belo, da arte, e tenho a moldura...
do corpo, vagante, andarilho, sem selo lacrado.
Amante vou pelos caminhos, voando nos ares...
procuro o amor que brilhou, mil rastros deixando,
se um dia puder encontra-lo, nos verdes altares,
virá o final da jornada, num colo, num abraço,
se não, seguirei para sempre, sua face buscando.