A CANÇÃO DO PINHEIRO
Quero entrar pelas matas virgens
Numa manhã equinocial, quando
As estrelas diluídas em orvalho matinal
Estiverem brilhando como diamantes
Nas folhas das samambaias verdejantes;
Ali me plantarei, como um totem
Na franja aberta de um monte, olhando
Para o sol nascente, abrindo no horizonte,
O seu grande olho ardente,
Olho sem cílios, do deus Hórus onisciente.
Vou ouvir o Grande Espírito
Pai-Avô do mundo, cantando
Pelas matas, o seu canto mais profundo
Misto de hino e madrigal
Elegia panteísta ao grande Deus universal.
Homem terra ou homem árvore
Feito de barro ou clorofila, sentinela
Com araucárias e ipês postos em fila
Guardando os caminhos do antílope
E do cavalo selvagem em seu galope;
Quero ver a pedra parir o rio
Ouvir seu primeiro choro, quando
Rola morro abaixo, fazendo coro
Com a maritaca barulhenta
E a araponga com seu canto de pimenta.
Amo as manhãs do meu país
Como o homem que ama uma mulher, e ela
Ao homem que a quer.
Como a terra ao sol, seu ardente macho
Que todos os dias a engravida com seu facho.
Assim me vejo, um falo sobre a terra
Á espera da fêmea que me queira, para
Tornar-se minha companheira,
Juntos, com o Tio-Vento por padrinho
Adotaremos uma família de passarinhos.
Oh! Grande Pai de todas as luzes,
Deixa-me ser só um pinheiro, assim
Tão naturalmente, numa colina por inteiro,
Para ser visto em toda minha majestade,
Pois esta é a minha única vaidade.