A CANÇÃO DO PINHEIRO

Quero entrar pelas matas virgens

Numa manhã equinocial, quando

As estrelas diluídas em orvalho matinal

Estiverem brilhando como diamantes

Nas folhas das samambaias verdejantes;

Ali me plantarei, como um totem

Na franja aberta de um monte, olhando

Para o sol nascente, abrindo no horizonte,

O seu grande olho ardente,

Olho sem cílios, do deus Hórus onisciente.

Vou ouvir o Grande Espírito

Pai-Avô do mundo, cantando

Pelas matas, o seu canto mais profundo

Misto de hino e madrigal

Elegia panteísta ao grande Deus universal.

Homem terra ou homem árvore

Feito de barro ou clorofila, sentinela

Com araucárias e ipês postos em fila

Guardando os caminhos do antílope

E do cavalo selvagem em seu galope;

Quero ver a pedra parir o rio

Ouvir seu primeiro choro, quando

Rola morro abaixo, fazendo coro

Com a maritaca barulhenta

E a araponga com seu canto de pimenta.

Amo as manhãs do meu país

Como o homem que ama uma mulher, e ela

Ao homem que a quer.

Como a terra ao sol, seu ardente macho

Que todos os dias a engravida com seu facho.

Assim me vejo, um falo sobre a terra

Á espera da fêmea que me queira, para

Tornar-se minha companheira,

Juntos, com o Tio-Vento por padrinho

Adotaremos uma família de passarinhos.

Oh! Grande Pai de todas as luzes,

Deixa-me ser só um pinheiro, assim

Tão naturalmente, numa colina por inteiro,

Para ser visto em toda minha majestade,

Pois esta é a minha única vaidade.

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 14/05/2013
Código do texto: T4290700
Classificação de conteúdo: seguro