Cantiga
Quando ouviu o canto
Vistoso de um rouxinol,
O velho músico, num espanto,
Pôs-se a imitá-lo sob o Sol;
E o pássaro, num gracejo,
Pondo-se todo formoso,
Parecia gostar do ensejo
Que cantava alto, pomposo.
Buscando a folha levada
Da partitura fujona,
O velhinho rabiscou uma toada
Com a pena sabichona;
E o cantor pousou-lhe no ombro
Como se estivesse a ditar,
E qual não foi o assombro
Do velho a escutar?
O barba-branca corou afortunado
Adquirindo um esperto parceirinho,
Que lhe inspirava modinhas por um lado
E por outro se tornou seu amiguinho;
O compositor levou o seu intérprete para casa
E numa gaiola o pendurou
Só que o pássaro só bateu asa,
E nunca mais cantou.