Cantiga

Quando ouviu o canto

Vistoso de um rouxinol,

O velho músico, num espanto,

Pôs-se a imitá-lo sob o Sol;

E o pássaro, num gracejo,

Pondo-se todo formoso,

Parecia gostar do ensejo

Que cantava alto, pomposo.

Buscando a folha levada

Da partitura fujona,

O velhinho rabiscou uma toada

Com a pena sabichona;

E o cantor pousou-lhe no ombro

Como se estivesse a ditar,

E qual não foi o assombro

Do velho a escutar?

O barba-branca corou afortunado

Adquirindo um esperto parceirinho,

Que lhe inspirava modinhas por um lado

E por outro se tornou seu amiguinho;

O compositor levou o seu intérprete para casa

E numa gaiola o pendurou

Só que o pássaro só bateu asa,

E nunca mais cantou.

Aleixo Prístino
Enviado por Aleixo Prístino em 06/03/2013
Código do texto: T4173745
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