O GUARDADOR DE REBANHOS - Alberto Caeiro
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos.
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Alberto Caeiro é considerado por Fernando Pessoa como seu mestre (porém é um heterônimo criado por ele). Espécie de poeta-filósofo, que extrai seu pensamento não de livros nem da civilização, mas de seu contato direto com as coisas e com a natureza, Alberto Caeiro crê que o homem complicou demais as coisas com a metafísica, com suas teorias filosóficas e científicas, com suas religiões. Por isso defende a simplicidade da vida e a sensação como único meio válido para a obtenção do conhecimento.