O PÀSSARO
Olhei na vaga tarde
Insolitamente
Havia no céu um pequeno pássaro que o vazava
Impunemente
Tive por momentos a doce sensação
De ser livre, leve e poder voar também
Para longe de tudo e de mim
Soltar-me das amarras
Um anseio besta, uma fuga juvenil
Felizmente durou pouco,
Pois logo veio a sensação do impossível
Pelo peso destes pés
Estarrecedoramente grudados ao chão
Veio a cruel sensação
Da imobilidade do corpo
Veio a tristeza de ter que aceitar a realidade
Do cotidiano
Atávico e canhestro
Que se arrasta em mim
Senti-me pequeno e desolado
Ante aquela verdade nua
Muitas são as improbabilidades da vida
O pequeno pássaro vazou o espaço e foi-se
Na sua grande agilidade
Livre, solto e como uma pluma ao vento
Como deve ser o amor, a felicidade
E tantas outras coisas que não alcançarei!