O PÀSSARO

Olhei na vaga tarde

Insolitamente

Havia no céu um pequeno pássaro que o vazava

Impunemente

Tive por momentos a doce sensação

De ser livre, leve e poder voar também

Para longe de tudo e de mim

Soltar-me das amarras

Um anseio besta, uma fuga juvenil

Felizmente durou pouco,

Pois logo veio a sensação do impossível

Pelo peso destes pés

Estarrecedoramente grudados ao chão

Veio a cruel sensação

Da imobilidade do corpo

Veio a tristeza de ter que aceitar a realidade

Do cotidiano

Atávico e canhestro

Que se arrasta em mim

Senti-me pequeno e desolado

Ante aquela verdade nua

Muitas são as improbabilidades da vida

O pequeno pássaro vazou o espaço e foi-se

Na sua grande agilidade

Livre, solto e como uma pluma ao vento

Como deve ser o amor, a felicidade

E tantas outras coisas que não alcançarei!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 18/03/2007
Reeditado em 27/05/2017
Código do texto: T416759
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