A farda que o poeta carrega

A farda do poeta é onde quero me guardar.

É do poeta a sensibilidade mais perfeita,

E a mais bela visão das cores.

Quando entrego minha farda de poeta, desconfio que além de perder a memória, perco também a coragem de correr riscos;

Volto a ser igual, a viver o amor e não acreditar nele;

Perco a guerra, a força, a esperança e o brilho no olhar;

Segundos depois a certeza que quando poeta, vivo, quando não, sobrevivo.

Vejo sorrisos mortos e olhares sem brilho, não sinto o abraço, mesmos os mais apertados.

Fico triste!

A armadura poeta me envolve e aquece, persegue.

Quando entrego a farda de poeta, respiro ar poluído, vejo casos perdidos;

Meus personagens constantes, tão inconstantes;

A farda protege e completa, espanta.

Por vezes me engano quanto à personalidade, realidade...

Vejo cenas proibidas, inimigos perturbados, não sinto o beijo doce, mesmo os mais sinceros beijos e apaixonados.

Não acredito!

Poetas! Poetas! Poetas!

Cheios de sonhos escondidos, meninos, bandidos;

Feito criança a chorar, entre lembranças e saudades, verdades,

Parecem cenas de cinema, entre casos consumados, novelas,

Quero minha farda de poeta,

E viver a minha vida, cercada de realidade...

Guardar-me enaltecida, em armaduras de poetas.