O PRATO DE LENTILHAS
Primogénito de eleição
Esaú, desde pequeno,
Com direito a um terreno
Gozava da tradição
Pelo seu lado materno.
Era mais novo o Jacob
Diferente de seu irmão
Com seus pais de criação,
Enquanto Esaú tão só
Primogénito de eleição.
Jacob criava pardais
De feitio bem sereno
Era de rosto moreno.
Apascentando animais
Esaú, desde pequeno.
A Jacob seu velho pai
Dava-lhe cama de feno
Esaú, de ar subalterno,
Para longe cedo vai
Com direito a um terreno.
Todos viviam felizes
Em perfeita condição
Esaú pelo sim, pelo não,
Para evitar os deslizes
Gozava da tradição.
Um dia, cheio de fome,
Pediu num afável aceno
A Jacob seu irmão terno
Lhe desse glória e renome
Pelo seu lado materno.
Ele, com rara temperança,
Negociou, oh maravilhas,
Na conta das suas partilhas
Dar-lhe a filial herança
Por um prato de lentilhas.
Aceita Esaú esfaimado
Perdendo o jogo e o tino
E a história em desatino
Deixou como vão legado
A ironia do Destino.
Ficou pra sempre esta lenda
Em memória rotineira:
Há governos sem maneira
Que mesmo com reprimenda
Acabam sempre em asneira!
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA