COMO NUVENS INCONSTANTES
Nuvens espessas se revezam
Em desarmonia desmazelam
Procuram seu espaço no céu
Não se aquietam,se misturam
Transformam,
E caras e bocas formam.
Uma metamorfose aluscinante.
À multidão de outras nuvens
Incomodam.
Como astros, não cessam
Seguem sempre persistentes
E mudam seus rastros.
Assim sou eu...
Como se ainda me rastreasse
Em meio a multidão
E ainda não me achasse.
Sou eu, como nuvem inconstante
Vivo como se só hoje tivesse nascido
Ou então seria meu último dia vivido?
E ainda que eu tivesse mil anos
Seria este meu eu desconhecido
Me mexo, não cesso
Me entrego, misturo
me sinto em processo.
Continuamente, irrelevante,
Inconstante,impetuosa,irreverente...
Metade em tudo,completa em nada
Como em curvas tortuosas.
O meu olhar se perde
Olhando no céu as nuvens disformes.
Sempre processando,
Nunca se encontrando.
Há uma cumplidade
Entre eu e elas.
Concordando me dizem
Por uma longíqua janela.
Me entendem, quero entender
Nesse espaço também
Vou me encontrar...
Quando um dia desaparecer.
FATIMA KALIL