O SABIÁ E EU
Canta o sabiá, a noite acaba,
E o sol como um vulcão lá na colina
Clareia... No quintal de Valdivina
As aves vêm comer jabuticabas.
Eu, estou sozinho.
Canta o sabiá, tudo amanhece,
Das casas vão se abrindo as janelas,
E transeuntes passam nas vielas...
E assume, o vendedor, sua quermesse.
Eu, estou pensando.
Os motores roncam nas garagens,
Máquinas acordam nos galpões,
Crocitam, na galhada, os gaviões,
E o tempo a nos moer nesta engrenagem.
E eu, estou chorando.
Canta o sabiá, o vate escuta,
E vai espremer sua dor numa poesia,
Dormiu e acordou com a nostalgia,
E agora quer colher a sua fruta.
E eu, com a dor e a lira.
Canta o sabiá com alegria,
Não sabe, o sabiá, que me machuca,
E canta o amanhecer do novo dia,
Talvez não sinta a dor que me cutuca.
E eu, ainda suspiro...