COISAS DA ROÇA...
COISAS DA ROÇA
É o fogão de lenha,
expelindo fumaça,
que sobe e se esvai,
brincando de nuvem
no azul céu de anil.
de barro ou de ferro,
panela no fogo,
chaleira do lado,
ouvindo estalidos
da brasa, o tição.
de boca fechada,
a cara amarrada,
esperando pancada,
num canto escondido
se encolhe o pilão.
Araponga, por perto,
martela a bigorna,
barulho estridente,
ecoando na mata
só prá aparecer ...
monjolo não cansa,
bebendo na fonte,
cuspindo prá fora
com raiva, batendo,
vai, vem sem parar.
porteira que geme,
no “corgo” a pinguela,
curió na gaiola,
talvez, por descuido,
arapuca prendeu.
o ferro de brasa,
corruíra no galho,
um cão perdigueiro,
paisagens da roça
sem luxo nenhum.
no ar o cheirinho,
comida gostosa
que vem lá do rancho,
farinha, farofa,
torresminho, feijão.
o doce de leite.
bolinho de chuva,
depois da costela,
do lombo de porco,
com pimenta e limão.
caboclo cansado,
matuta encostado
no cabo da enxada,
cigarro de “páia”
“prá mó de ascendê”.
prá que fazer força,
tiririca na roça,
se arranca ela volta,
êta praga teimosa,
não adianta insistir.
se o sol vai se embora,
lua cheia alumia,
prá ajudar:- lamparina.
mais a fresca da brisa,
de perfume:- alecrim.
a luz bruxuleia,
em danças nervosas
do chão à cumieira
em sombras que mexem
na mor escuridão
o som da viola,
moringa de barro
com água da bica,
lá no fim do atalho
bem de trás do paiol.
a reza, o silêncio,
piedade sincera
que une ao divino
o humano vivente
imbuído de paz.
a noite se achega,
cricrilam os grilos.
a jia, a coruja,
cadência dos sapos
à beira do rio.
são coisas passadas,
passado distante,
momentos vividos
e hoje esquecidos
empoeirados no tempo,
na memória, talvez !
e aqui na cidade
a saudade revive,
dois dedos de prosa,
a comida cheirosa,
o calor do aconchego,
voltando outra vez ...
nas “coisas da roça”
Em Bauru tínhamos um restaurante onde era servida comida mineira e chamava-se: COISAS DA ROÇA e seu proprietário Henrique. Nessa época fiz-lhe uma homenagem através desta poesia. Hoje esse restaurante não existe mais.
Ivan Kopsky