Montes

"Eu conheço bem a fonte

que desce daquele monte

ainda que seja de noite..."

Raul Seixas

Monte Dourado, 31 de agosto de 2012.

O que se esconde por detrás dos montes

Será a saudade que tenho de ti?

O que eu avisto por detrás dos montes

Meu começo, um meio, meu fim.

Tantas subidas cansando meu peito

Menos sofridas do que a lembrança

Mas se o passado vive em meu leito

Eu me levanto e continuo a dança

O que eu procuro por detrás dos montes?

Será desde já um lugar pra descanso?

Talvez me seduza naqueles bons montes

Um lugar de paz, pacato e manso

Pare-me a estratégia, o discurso, a guerra

Estanque os vícios, a ruga na testa

Quero ver o sol escorregando na serra

Quero a conversa lúcida de gente modesta

Não me atrevo a procurar os montes

Sem depurar o amargo do chão

Que testemunhe o mais belo dos montes

Quantas mãos apertei, quantos irmãos

Que tenham justiça, que seja dado

O direito de seu suor poder contar

Que seu caminho não seja calado

Quero ouvir os cantos no seu plantar

Mas já foi tempo meus caros montes

Aguente paciente meu prosear

E na cadeira que vejo os montes

Faço um balanço do meu lutar

Será que merece este pobre servo

No final um tesouro que me ilumine a fronte?

Não me importo com ouro, peço apenas relevos

Com flores de ipê a descer dos montes.