TI JAQUINA LÁ DA ALDEIA

Está limpa a nossa aldeia

De tudo o que é excremento

Ti Jaquina teve a ideia

De ver a todo o momento

Um lustroso pavimento

Antes da hora da ceia.

Ali vai uma bezerra

Mais além um bezerrão

Umas cabras lá da serra

Logo atrás do seu patrão

E pelo sim pelo não

Uma cesta vai na berra.

Sai de casa com o sol

Uma côdea no avental

Tem de anos lindo rol

E um sorriso jovial

O povo não fala mal

Do que leva a tiracolo.

Junto à cesta vai um sacho

Com garrafita de vinho

Todo o chão no seu despacho

Vai ficando bem limpinho

À horta chega cedinho

Que o sol ainda está baixo.

- Ó couves p´ ra que vos quero,

Esta seca brada aos céus,

Se me rala o destempero

Minha vida queira-a Deus

Pois se não tenho pros meus

Desta horta nada espero.

- Ti Jaquina, ti Jaquina,

Não se faça de mendiga

P´ ra alegrar esta campina

Deite cá uma cantiga

Do tempo de rapariga

Com sua voz cristalina.

Ti Jaquina lá cantava

As cantigas de então

E quando ela passava

De cesta suja na mão

A aldeia com afeição

Alguma coisa lhe dava.

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 23/09/2012
Reeditado em 23/09/2012
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