TI JAQUINA LÁ DA ALDEIA
Está limpa a nossa aldeia
De tudo o que é excremento
Ti Jaquina teve a ideia
De ver a todo o momento
Um lustroso pavimento
Antes da hora da ceia.
Ali vai uma bezerra
Mais além um bezerrão
Umas cabras lá da serra
Logo atrás do seu patrão
E pelo sim pelo não
Uma cesta vai na berra.
Sai de casa com o sol
Uma côdea no avental
Tem de anos lindo rol
E um sorriso jovial
O povo não fala mal
Do que leva a tiracolo.
Junto à cesta vai um sacho
Com garrafita de vinho
Todo o chão no seu despacho
Vai ficando bem limpinho
À horta chega cedinho
Que o sol ainda está baixo.
- Ó couves p´ ra que vos quero,
Esta seca brada aos céus,
Se me rala o destempero
Minha vida queira-a Deus
Pois se não tenho pros meus
Desta horta nada espero.
- Ti Jaquina, ti Jaquina,
Não se faça de mendiga
P´ ra alegrar esta campina
Deite cá uma cantiga
Do tempo de rapariga
Com sua voz cristalina.
Ti Jaquina lá cantava
As cantigas de então
E quando ela passava
De cesta suja na mão
A aldeia com afeição
Alguma coisa lhe dava.
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA