Só por um tempo

Só por um tempo

Há algo diferente nessa estranha manhã.

Nem reconheço esses raios de sol.

Teria a noite se alongado em seu repouso?

O verde da folhagem revela uma fotossíntese

que parece não ter se consumado.

Alguma coisa oculta pelo orvalho petrificada.

As flores não expressam a beleza de outrora.

O seu perfume evadiu-se no etéreo espaço

onde permeiam os infinitos desejos.

A íris turva, refletia o marejar de olhos

que buscavam a insistente réstia que transpunha

as fendas da alma e do silêncio.

Tudo era estranho e estranhamente absorto:

Os passos, a paisagem, os sons

e o passeio das horas mortas.

O espelho negou-me a sua face,

como que a proteger-me ou a proteger-se

do que não deveria ser revelado.

Em meio ao burburinho, a razão de tudo:

Meu amor partiu. Só por um tempo.

E assim será até o seu retorno.