Desabafo
Inerte agora flui o que provocou a erupção,
Como o fel da desilusão que na boca amargou
Dissipou o seu sabor e ficou só a lembrança.
Abdiquei da herança, que me trouxe seu perdão.
Não chora por tua ausência, nem quer a tua investida,
Aquela que foi em vida a tua beatificação.
Aboliu-se a escravidão desta alma reprimida,
A liberdade fez-se amiga e redimiu meu coração.
A sensação de amplitude que o horizonte monta,
É impagável conta para o meu mísero olhar,
Deixarei de te notar pra sua própria satisfação,
Regale-se na solidão que será o teu novo par.
Vejo agora novas cores, sinto novos sabores,
Exalo novos perfumes, busquei uma nova escola,
Abandonei a tola, transtornada de ciúmes.
Há bem mais do que um quintal, quando olho na janela,
A paisagem é bela, mas nunca prestei atenção.
Dada a tua alegria, sem perceber eu perdia,
Toda a minha autonomia e autopreservação.
Estou mais atenta agora, mais viva, mais curiosa,
Mais focada no momento.
Vou encarar diferente o que vier pela frente,
Sem tanto questionamento. É preciso ser forte,
Para mudar o seu norte, e fixar bem o pé.
Vou fazer meu caminho, repensar os meus medos, meus desejos e fé.