Desabafo

Inerte agora flui o que provocou a erupção,

Como o fel da desilusão que na boca amargou

Dissipou o seu sabor e ficou só a lembrança.

Abdiquei da herança, que me trouxe seu perdão.

Não chora por tua ausência, nem quer a tua investida,

Aquela que foi em vida a tua beatificação.

Aboliu-se a escravidão desta alma reprimida,

A liberdade fez-se amiga e redimiu meu coração.

A sensação de amplitude que o horizonte monta,

É impagável conta para o meu mísero olhar,

Deixarei de te notar pra sua própria satisfação,

Regale-se na solidão que será o teu novo par.

Vejo agora novas cores, sinto novos sabores,

Exalo novos perfumes, busquei uma nova escola,

Abandonei a tola, transtornada de ciúmes.

Há bem mais do que um quintal, quando olho na janela,

A paisagem é bela, mas nunca prestei atenção.

Dada a tua alegria, sem perceber eu perdia,

Toda a minha autonomia e autopreservação.

Estou mais atenta agora, mais viva, mais curiosa,

Mais focada no momento.

Vou encarar diferente o que vier pela frente,

Sem tanto questionamento. É preciso ser forte,

Para mudar o seu norte, e fixar bem o pé.

Vou fazer meu caminho, repensar os meus medos, meus desejos e fé.

Priscila Neves
Enviado por Priscila Neves em 05/05/2012
Código do texto: T3651035
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