A vida da Roça

A VIDA DA ROÇA

Meu pai me dexô de herança

Um pedacin de terra

Oito galinha no terrêro

Uma junta de boi

E dois porco no chiquêro

Ele me féis um pidido

Inhantes desse mundo parti

Que cuidasse bem das terra

Pra mode ela sempre produzi

O sertão é o isteio da cidade

E a seu pidido vô atendê

Vô agaranti a sobrevivença

E a mesa cum fartura

Vô abasticê!

Ela fica na bêra do rio

De um lado o Corgo do Buriti

Do ôto o Riacho Frio

Terra boa ta ali!

Tenho os meus pé

Fincado aqui nesta roça

Meu ranchim é de sapé

Uma linda paioça...

De manhãnzinha

Uma linda serenata

Da Juriti afinadinha

Lá do meio da mata...

A Chalêra vaporano

No Cuadô o café

Água quente frevorosa

Feitio a minha fé

O forno de barro calado

Ali à sua manêra

Tamém já tinha assado

O bolo de Macaxêra

A Luzia e os rebento

A famia a meu redó

É hora do sustento

Do mais véio ao menó

Dispois do café

A dispidida nos oiá

Boto muita fé

No meu caminhá

Farofa de carne seca

E Rapadura no imborná

Meu bucho na ispreita

Sabia que era pra armuçá

Eu alevanto e me benzo

Bêjo muié e os fio

Mão na inxada e vô à luta

Faça sol ou faça frio

Cavuco a terra sagrada

A semente se cobre de prazê

Suó iscorre feito inchurrada

É o jeito matuto de sê

Corpo cansado

Mais a álima contente

Custume abençuado

Pra mode alimentá a gente

O sol chega de mansinho

E devagá beija a terra

A tarde vem

Carregada de sodade

Vida do campo

Num tem metade

E o dia se incerra...

É hora de vortá pra casa!

Já avisto a fumaça

Daqui do ispigão

Fugão à lenha cheio de graça

Arrôis pilado e pele no fêjão

Meu cachorro cumpanhêro

Late ao me vê na istrada

E vai inté a portêra

É o meu cão fiel de guarda

A Luzia me disse onte à nôte

Que vai fazê um trem mió de bão

Qui é pra mode aquecê nóis dois

É um tar de quentão

Eu acho inté que num pricisa

Nóis é iguá o fugão

Tamo aceso dia e nôte

Como um tale de Vurcão!

A lua crara inlumina o campo

Lá dispois do Ribêrão

Tem uma viola pontiano

É o cumpade Onofre amigo do coração!

Vô adurmecê grudadin na Luzia

Essa vida da roça é uma magia

Vô sonhá com o hoje

Pois o amanhã é ôtro dia!

Sei que vô sonhá com a prantação

Prantei cum fé em DEUS

E Ele sabe da minha labutação

Ele sabe dos dia meu

Amanhã bem cedinho

Vô vortá pro campo

Infeitado de aligria

E dêxá filiz da vida

Meus fio e a piquena Luzia...

Vô perparar

Minha junta de boi de istimação

Pra mode levá

O risumo da prantação...

Sei que na cidade grande

Tem gente que num qué sê da roça

Mais este humirde matuto é gigante

Põe o alimento em sua mesa

E mora nunha simpres paioça

Essas mão calejada

Que num sabe manejá uma caneta

Mais sabe prantá o alimento

E pô na mesa a coiêta

Quero vortá cantano

Em meio aos animá

E vê os Bêja-frô

Dançano pelo ar

Quando eu vortá

Quero vê a Luzia

Na portêra a me isperá

Com um aceno e um sorriso

Bunito sem iguá

Minha roça e nesse sertão

Adonde meu pai morô

E dêxô esse pedacin de terra

Pra mode eu cuidá!

Vô honrá o nome dele

E tocá em frente a labuta

Cuidá bem dessa terra

Como ele pidiu

Sô minêro de sangue nos zóio

Nesse pedaço de Brasil!

Êh Vida da roça!

Inté pessoá...inté!

Tinga das Gerais

Mestre Tinga das Gerais
Enviado por Mestre Tinga das Gerais em 12/04/2012
Reeditado em 29/05/2016
Código do texto: T3607859
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