O DESVAIRADO E A NOITE

Nesta noite eu não tenho lar,

não tenho ódio e não tenho amor,

não vou a lugar algum e venho de lugar nenhum,

não sou ninguém e não desejo ter alguém...

Sei de onde não vim

e não tenho a menor idéia de prá onde vou,

nesta noite sou apenas a noite

e tenho apenas a noite como companheira...

Quase já nem sei quem sou

e talvez nem queira mesmo saber,

nada mais me interessa

a não ser a solidão do existir...

Nos braços desta madrugada enluarada

busco afagos de uma doce vida de ilusões

que já nada vale após tantas desilusões,

são apenas lembranças doces, de “talvez” eternas paixões.

Quero apenas sentir o que é caminhar a meu próprio lado

e pensar em tudo pensando em quase nada...

O nada que somos eu e a noite,

através das ruas, dobrando as esquinas...

nesta noite sou apenas este poema, quase sem rimas.

Quase já não me recordo de tantas coisas passadas

que ficaram mergulhadas nas profundezas

da densa névoa do tempo

e hão de ficar ainda mais sepultas quanto mais o tempo passar,

esquecidas para todo o sempre onde meu inerte corpo um dia repousar.

Quando a neblina se fizer mais densa e escura,

e quando a noite se fizer eterna, sem fim,

então nada mais temerei e quem sabe sorrirei

ao pensar saber que enfim é consumado o fim.

Nesta noite sou apenas a noite

e tenho apenas a noite como companhia,

até que ao final venha nos sufocar a alma

a gloriosa luz do dia.

ROBERTO CARLOS BRAZ DO NASCIMENTO

(ROBERTO BRAZA)

29/08/2010

ROBERTO BRAZA
Enviado por ROBERTO BRAZA em 24/02/2012
Reeditado em 24/02/2012
Código do texto: T3516634
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