NÃO-ESTAR
Não-estar é um silêncio
Profundo
Uma dor que não tem
Fundo
Quase um dia sem entardecer
Não tem começo nem fim
Sem elo
No vazio me esmero
E terço um ângulo reto
Onde não cabe o olhar
De tão distante, infame
De tão perto, inflama
De tão grande, esmaga
De tão pouco, esmola
E o silêncio se agiganta
Uma canção sem nota
Um viajante sem rota
Erguido em um fio de memória
Que também não há
Dentro do não-estar
Amamentando o não-ser
(quase irmão)
Sereno sem remo
A beijar a folha sem dengo
Do amanhecer