LENÇOL RASGADO

Madrugada, chove.

Gotas caem espatifando-se

nas fitas isolantes de betume que

vestem as ruas, avenidas.

Tamborilam os telhados,

descem desgovernadas

cachoeirando pelas bicas.

Correm serpenteando pelas coxilhas,

alvoroçadas, esgueirando-se pelos

portões de garagens,

portas de casas em desnível.

Úmidas,

querem ser possuídas pela terra,

seca, no cio.

Há um cheiro de marmeleiros,

manjericões, ateiras.

A pomba-rola chama seu macho

a responsabilidade sexual.

Abandono a calçada,

caminho cômico, chapinhando pelo meio-fio.

Sinto estar rolando uma química

entre mim e a natureza.

Quero dizer, uma aquática:

não somos nós, setenta por cento água?

Sagüi
Enviado por Sagüi em 16/02/2012
Código do texto: T3502153
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