Na varanda

Estive com essa ideia na cabeça por muito tempo,

a varanda.

Por mais simples que possa parecer,

eu nunca tive uma varanda em casa.

Quando ia até a casa da minha avó,

no meio do sertão,

sem aguá nem pão,

porém sem miséria só comédia,

eu dormia na rede do lado de fora,

na varanda.

Sem grades,

sem muros,

só mosquitos irritantes,

daqueles que se multiplicam quando o matamos.

Aquelas noites eram realmente incríveis,

o céu no sertão,

um medo danado no coração,

não de assalto ou de sequestro.

Mas de almas e assombrações,

é, eles só não existem enquanto não aparecem para a gente.

Na varanda, no silencio eu podia pensar,

onde os pensamentos respiravam livres,

eu adorava me colocar medo.

Criava sussurros e imagens assustadoras com troncos de arvores retorcidos.

Mas não pensem que eu tinha tamanha coragem,

pois para um menino da minha geração,

o objeto mais valioso e que te protegeria para sempre era:

o cobertor.

Sem sono uma noite eu desci da rede,

sentei no degrau.

Encostei a cabeça e pensei...

Quando eu crescer quero viajar pro céu.

Pro céu.

Quero tocar nas estrelas.

Quero chutar uma daquelas bolas que passam brilhando e deixam só a poeira pra trás.

Quero abraçar uma arvore na Lua e pegar uma maça lá,

Deve ter o mesmo gosto das nossas, ou sera que lá não tem bixo nas maças?

Tomara que não, nem sejam fofas, odeio maça fofa.

Assim como eu passei a odiar meu primo mais velho,

o sujeito não podia ouvir eu falando,

vivia dizendo

impossível, nem dá, num dá, duvido,

enquanto eu queria ouvir,

será? Pode ser... porque não?

Odeio pessoas que boicotam meus pensamentos.

Quero uma varanda.

As varandas são mágicas,

ao se deitar na varanda e olhar pra cima,

ou você encontrava estrela ou marimbondo.

Como eu era muito valente,

preferia dormir do lado de dentro as vezes,

só pra não enjoar.

Hoje eu cresci bastante,

tenho muitas saudades da varanda da minha avó.

Mas admito que alguns dos meus sonhos eram inviáveis,

pro momento é claro.

Mas hoje eu descobri uma estrela,

Essa brilha muito e diante dos meus olhos nunca se apagará.

Oxe.

Eu posso abraçar e até morder,

tem um gosto de perfume as vezes, vivo mandando ela se perfumar,

sabe como são as estrelas.

Mas ainda não pude realizar meu sonho,

a questão nunca foi tocar de fato uma estrela,

nem comer a maça lunática que realmente não tem gosto diferente.

A questão era fazer tudo isso,

na varanda.

A mágica está na varanda,

ela é cem por cento.

As vezes você passa despercebido,

mas tente viver toda sua vida sem uma varanda,

talvez você passe a dar mais valor para a sua.

Talvez você abrace sua estrela de lá.

Olhe para o céu hoje,

conte quantas estrelas estão por lá,

se houver apenas uma,

Leve-a para sua varanda.

Mostre para ela,

o ponto mais bonito,

mostre para ela o jardim que você andou decorando ali do lado,

mostre também todo seu vocabulário,

simpático, elegante, casual, agradável.

São palavras que as estrelas gostam de ouvir,

mas o importante vem agora:

Nunca saia debaixo da sua varanda.

Bartuka
Enviado por Bartuka em 13/12/2011
Reeditado em 17/11/2012
Código do texto: T3386013
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