MEMÓRIAS DE INFÂNCIA – “OS SONS DO SILÊNCIO DO LUAR DE AGOSTO”
No aconchego da noite e ao luar de agosto
Gritavam os sons dum silêncio distante
Sufocando o coaxar das rãs, que com desgosto
Invejavam os morcegos em seu voar rasante
A madrugada vestida com suas amarras
Atava o pensamento num vogar profundo
Acompanhando o cantar garboso das cigarras
Que vibravam gritantes pelas memórias do Mundo.
O luar de agosto, como reza as lendas d’outrora
Veste a noite com um manto de estrelas cintilantes
Perfumando os ares com as pétalas da aurora
Salpicando o madrigal com poemas brilhantes.
Os serões na aldeia eram ledo encanto
Na memória da menina que amava a natureza
O descamisar do milho no entoar dum canto
Quando o milho-rei despontava a sua beleza
No milharal o vento soprava toda a poesia
Em declarações de amor como pétalas de rosa
E os apaixonados se rendem à noitinha silenciosa
Trocando carícias com odores a maresia.
O tempo passa, mas a memória carrega o sentimento.
E ainda hoje recordo o eco dos teus passos
A fonte do teu riso e dos teus abraços
Como a charneca de flores em movimento.
Recordo os versos que te fiz na despedida
E a tua declaração de amor angustiosa e calma
O silêncio do pranto que desnudou a nossa alma
Com a promessa dum Amor p’ra toda a Vida.
By@
Anna D’Castro