À NOITE

A noite esconde um barulho

Medroso, quase homem

Escondido no embrulho da fala

Papel de seda

Com aroma de desejo

Animal sem pele

Grito sem som

Gemido escondido nas paredes

Dos quartos

(como se não houvesse)

Na noite se esconde um

Barulho infantil, que pula

Na sala,

Liberdade sem cerca;

Barulho sem manobra

Que exala desejo nos poros

Todos

Como fogo nos gravetos

Nas secas do meu sertão;

Lá as sementes vingam e morrem

(noite adentro)

E florescem

Sempre filhas da noite

Em pele de animal

Sem corar o rosto

Sem cobrir o corpo

Sem medições

À noite os teatros se mostram

As máscaras correm afoitas

Para o armário

(agora plateia)

Seus olhos perambulam pelas camas

E se fecham

Pela sarça ardente

E descansam exaustas dos imbróglios

Dos acordos

Dos conchavos

Dos ditames

Das condutas

Dos indultos

Dos comandos, dos contornos, dos contextos

Dos preconceitos...

Os teatros se fecham à noite:

O alívio sobe à cama

Os delírios se aninham

Os gemidos se amontoam

Os desejos se avolumam

(matreiros, quase paternos)

Os corpos se enlaçam

(biblicamente, até)

As carnes se completam

A arte se derrama em fogo brando

...À noite.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 21/11/2011
Reeditado em 21/11/2011
Código do texto: T3347361