Inocente (?)

Quero lembrar do tempo em que havia um raio de sol sobre o papel,

recordar dos sonhos que me faziam elaborar complicadas listas,

todos os lugares para onde viajaria dando a volta ao mundo,

percorrendo o frio da Islândia até os desertos do Sahara,

entre palavras e roteiros minha imaginação seguia linhas tortas,

e eu me sentia inocente, como um pássaro voando sem destino...

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Quero lembrar dos jogos de sexta-feira à tarde em campinhos de terra,

recordar dos dribles que entortavam as pernas dos adversários,

todos os gols que deixei de fazer quando fingia faltas improváveis,

percorrendo as jardas com uma bola furada nos pés descalços,

entre a defesa e o goleiro para marcar o único gol do jogo,

e eu me sentia inocente, como alguém com a eternidade nas mãos...

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Quero lembrar das tardes de domingo com o aroma do bolo no forno,

recordar a família comemorando o aniversário de mais um primo,

a garotada disputando o maior pedaço com refrigerante gelado,

percorrendo a casa da sala à varanda esbarrando em aconchego,

entre memórias do passado e do presente projetando meu futuro,

e eu me sentia inocente, sem nenhuma solidão me aprisionando...

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Quero me lembrar das lembranças que o esquecimento levou,

recordar os vultos de rostos que se perderam no labirinto da vida,

os nomes que não mais consigo definir em minha mente inquieta,

percorrendo a angústia de um vazio interior repleto de reticências,

entre interjeições desconexas e delírios silenciosos à meia-noite,

e eu me sinto sem inocência alguma, como um louco consciente...