Da varanda 



Nestas horas suavemente preguiçosas, 

manhãs, tardes e noites deliciosas 

só, fico sentado, pensativo a filosofar. 

De minha varanda, meu divã, bem-estar. 

Se elas brilham, todas elas, as estrelas 

brilham mesmo que não possamos vê-las. 

Me sinto leve, sinto das horas eterno compasso 

sonhar utópico, um lugar pequeno no espaço. 

Nuvens plúmbeas a encobertar mágica lua, 

observo na madrugada carros, faróis na rua, 

fogos de luzes, sons estridentes de buzinas 

sinaleiras, jogo do siga e pare nas esquinas. 

Nas fagueiras manhãs o lirismo, na vizinhança 

o afago da mãe no rosto afogueado da criança, 

a visão logo à frente de pinheiros verdejantes 

não tantos nestes dias, no passado abundantes, 

o cantar mavioso das aves, evoluções, revoadas 

em bandos, profusão de cores as passaradas. 

À mente meigas e saudosas lembranças, meninos 

em lúdicas brincadeiras, carinho da mãe, desatinos 

a correr pelas matas, mergulhos em límpido rio, 

tudo acabado, destruído, herdeiros do vazio... 

Sobrou-me a varanda, lindos florais no jardim, 

restou-nos um pouco de tudo, de ti e de mim...