Cena Antiga em Barbacena

Do nada surgiu.

Apareceu assim em minha frente.

Parecia um viajante do tempo que se perdera no túnel de Cronos.

Eu atrás,

Pacientemente com o carro. Estupefato.

Na charrete,

No compasso do cavalo,

Ele ali.

Do tempo,

Minha mente se tornou uma máquina

Transportando em lembrança

Meu ser para a infância.

Era o leiteiro,

Sua charrete,

Seu leite

(não em latas de metal, agora em plástico transparente).

Única ligação daquele conjunto com a contemporaneidade.

Desarmonia.

O líquido dançava ao som da música que saía do casco do cavalo.

Tempo de criança.

Outros leiteiros,

Outras charretes.

Às 8 ou o mais tardar às 9 horas,

Grito na janela:

-olha o leite, ô de casa!

Tempo que passou

Como esta cena passava

Diante de meus olhos:

Eu estacionando o carro

E aquele conjunto

Sumindo... sumindo...

Como as lembranças

Somem e aparecem

Na correria do tempo.

Naqueles tempos antigos,

Leiteiro com Lata Zincada

À janela gritando.

Hoje leite ensacado

Na padaria, no supermercado

Ou onde quer que for o ponto de venda...

Para eu pensar nisto é que este leiteiro de hoje,

Inusitadamente,

Viajante do tempo,

Apareceu com sua carroça

Em minha frente.

Trapaceou Caronte que não guardou

direito a passagem das duas dimensões...

O ontem e o hoje.

Para o amanhã, fica isto aqui registrado.

L.L. Bcena, 04/05/2000

POEMA 463 – CADERNO: GUERRA DOS MUNDOS.

Nardo Leo Lisbôa
Enviado por Nardo Leo Lisbôa em 13/10/2011
Reeditado em 14/10/2011
Código do texto: T3274073
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