Todos os dias pela manhã
Lá vinha ele em direção à gangorra.
Impulsionando-a para cima
Ora se encontrava nas alturas, ora de volta ao chão.
Com suas perninhas curtas ele montava,
Seu corpo pequeno era pura emoção,
De longe eu o avistava,
E o via com a propriedade de quem cavalga um alazão.
Eu olhava aquele menino no brinquedo,
Todas as tardezinhas admirado,
Senti falta da minha praça,
Quanta saudade do meu passado.
Longe já se vai,
O tempo que de calças curtas eu corria,
Sempre em direção a minha gangorra,
Que em minha praça adormecia.
Quanto sol vinha do céu
Amornando aquelas tardes
Quanto espaço eu tinha a volta
Quão grande era a minha liberdade.
Hoje na praça do menino
Esperei mas, ele não veio.
Nasceu em mim uma saudade,
na verdade foi receio.
O que será que o afastou
De sua praça tão querida?
Perguntava a mim mesmo
Com a alma apreensiva
No outro dia lá voltei
E de novo, ele não veio.
Foi então que fiquei sabendo
Que acertara quanto ao receio.
De uma voz tremula e chorosa
Ouvi:- ele não vem mais.
Foi brincar com os Anjos no céu
Dele, essa gangorra não é mais.
Hoje quando vou à praça
Ainda o vejo a se balançar.
Oferece-me um sorriso
Como quem diz:
-Quer brincar?