O Início do fim
Era uma estrada longa, sombreada.
Uma vegetação ora densa, ora pouca, mas presente.
Raios de um sol de outono completavam o cenário.
Mas era primavera.
Nos lugares por onde passava, via a gente de lá,
casas simples, povo humilde, vida calma.
Nem eira, nem beira, nalgum lugar.
Vida passando sem pressa, como a minha ali.
Eram diversidades, prosas, novidades, cotidianos.
Umas vidas indo, outras vindo, tudo se misturando.
Um pouco de cada cheiro, um gosto para cada paladar.
Um canto, um encosto e a estrada seguindo...
Eu via projetos velhos, criações novas.
Tinha modelos e estruturas, tinha gestos, palavras.
Eu via pecados imensos, culpas poucas,
verdades e mentiras... na beira da estrada.
Cruzes alheias, histórias mortas, sementes.
Eram detalhes de uma caminhada, minha.
A estrada era deserta, era movimentada, nem sempre era.
Uma estrada de melodias, risos, lágrimas, causas.
Eu continuava a vê-la, perseguindo-a, apenas indo.
Parava em momentos poucos. Pouco descanso.
Era preciso seguir, continuar, estar, permanecer.
Era a estrada de pontos extremos, lugares tantos.
Amontoados de coisas, de estilos, ilusões.
Um oceano de lidas, de tédios, uma estrada.
Um caos urbano, meio rural, total e só.
A estrada de uma vida inteira, sem retoques.
Ouvi aplausos e sussurros, lágrimas e confissões.
Ouvi rezas e novenas, cânticos e réquiens.
Ouvi meu nome ao longe, quase mudo...
Ouvi suspiros derradeiros.
Braços cruzados, sono profundo...
Sepulcros caiados.
Fecharam a porta, apagaram a luz, fim.