O Início do fim

Era uma estrada longa, sombreada.

Uma vegetação ora densa, ora pouca, mas presente.

Raios de um sol de outono completavam o cenário.

Mas era primavera.

Nos lugares por onde passava, via a gente de lá,

casas simples, povo humilde, vida calma.

Nem eira, nem beira, nalgum lugar.

Vida passando sem pressa, como a minha ali.

Eram diversidades, prosas, novidades, cotidianos.

Umas vidas indo, outras vindo, tudo se misturando.

Um pouco de cada cheiro, um gosto para cada paladar.

Um canto, um encosto e a estrada seguindo...

Eu via projetos velhos, criações novas.

Tinha modelos e estruturas, tinha gestos, palavras.

Eu via pecados imensos, culpas poucas,

verdades e mentiras... na beira da estrada.

Cruzes alheias, histórias mortas, sementes.

Eram detalhes de uma caminhada, minha.

A estrada era deserta, era movimentada, nem sempre era.

Uma estrada de melodias, risos, lágrimas, causas.

Eu continuava a vê-la, perseguindo-a, apenas indo.

Parava em momentos poucos. Pouco descanso.

Era preciso seguir, continuar, estar, permanecer.

Era a estrada de pontos extremos, lugares tantos.

Amontoados de coisas, de estilos, ilusões.

Um oceano de lidas, de tédios, uma estrada.

Um caos urbano, meio rural, total e só.

A estrada de uma vida inteira, sem retoques.

Ouvi aplausos e sussurros, lágrimas e confissões.

Ouvi rezas e novenas, cânticos e réquiens.

Ouvi meu nome ao longe, quase mudo...

Ouvi suspiros derradeiros.

Braços cruzados, sono profundo...

Sepulcros caiados.

Fecharam a porta, apagaram a luz, fim.

VALBER DINIZ
Enviado por VALBER DINIZ em 26/09/2011
Reeditado em 26/09/2011
Código do texto: T3242032
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