SAUDADE DOS RINCÕES
Ah! Que saudade dos rincões da minha terra
Lá onde a aurora faz o encanto das manhãs,
E a passarada numa grande sinfonia
Desperta a amada pra outro dia de afã.
O cheiro forte que exala das campinas
Tal qual o cheiro de um ato de amor,
Onde o sol desnuda o céu, rompe a neblina,
Revela a tez da natureza multicor.
A exuberância dos campos tão verdejantes
Contrastam com o amarelo dos ipês,
Os laranjais carregadinhos prenunciam
Que aproxima o tempo de se colher.
Ao longe ouço o som da grande cachoeira
Que forma um véu de águas puras, cristalinas;
As aves voam livres por entre as palmeiras
E o gado gordo pasta por entre colinas.
O tosco arado rasga a pele de um torrão
Sob o lamento triste do carro de boi,
O candeeiro açoita a junta com o ferrão
Ah! Que saudade de um tempo que se foi.
Eu me recordo do nosso velho moinho,
Do fubá grosso que mamãe fazia broa,
Lembro a garapa, a cachaça e a viola,
As serenatas, a palhoça e a garoa.
E quando vem a tarde com seu arrebol
Em um poslúdio os sapos coaxam no grotão,
Os pirilampos se revestem das estrelas
E a lua cheia lá no alto faz clarão.
Ah! Que saudade dos rincões da minha terra
Da apoteose do esplendor do meu sertão.
Ah! Que saudade da cabocla que eu amei,
Linda morena que roubou meu coração.