Inóspito (ao amor)

Agora que deixei todas as coisas pra depois,

abraço canções em despedida,

desfaço laços já rompidos,

carrego comigo bagagens quase vazias

- sensações apenas, são o que levo.

Flutuo por meus pensamentos tão silenciosos,

tão quietos.

Deixei mesmo meus desejos pra daqui a pouco.

Desmanchei toda aquela coragem

- já estava mesmo borrada.

Percebi que sou papel em branco,

solidão descalça pisando brasas.

O que tentei escrever foi-se embora,

voou,

nem sequer amarelou comigo.

Tenho o dom de perder coisas,

de pegar atalhos,

de estrada escura,

árvore seca, cachoeira sem queda,

batalha sem trégua,

dançarina sem par.

Agora que deixei,

de uma vez por todas,

a mim mesma pra depois,

abafo minha voz,

tropeço em passos de dança,

caminho por qualquer nuvem em dia de tempestade.

AnaNunes
Enviado por AnaNunes em 29/08/2011
Reeditado em 02/06/2012
Código do texto: T3188618
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