Inóspito (ao amor)
Agora que deixei todas as coisas pra depois,
abraço canções em despedida,
desfaço laços já rompidos,
carrego comigo bagagens quase vazias
- sensações apenas, são o que levo.
Flutuo por meus pensamentos tão silenciosos,
tão quietos.
Deixei mesmo meus desejos pra daqui a pouco.
Desmanchei toda aquela coragem
- já estava mesmo borrada.
Percebi que sou papel em branco,
solidão descalça pisando brasas.
O que tentei escrever foi-se embora,
voou,
nem sequer amarelou comigo.
Tenho o dom de perder coisas,
de pegar atalhos,
de estrada escura,
árvore seca, cachoeira sem queda,
batalha sem trégua,
dançarina sem par.
Agora que deixei,
de uma vez por todas,
a mim mesma pra depois,
abafo minha voz,
tropeço em passos de dança,
caminho por qualquer nuvem em dia de tempestade.